quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM?

         RUDOLF GENRO GESSINGER

https://www.gaz.com.br/ainda-ha-juizes-em-berlim/


            Ruy Armando Gessinger, meu pai, foi o segundo homem natural de Santa Cruz do Sul a tomar posse como Desembargador no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, formado em Direito pela UFRGS. Além de ter sido, na juventude, delegado de polícia e advogado, ele fez carreira como juiz de direito, atendendo as comarcas de Horizontina, Arroio do Meio, Santiago, Ijuí, São Leopoldo e Porto Alegre.

             Nas primeiras duas comarcas, meu pai foi o primeiro juiz. Há cinquenta anos, a subseção da OAB de Santiago foi criada também com a ajuda dele.

         Naturalmente, ao longo de toda a carreira dele aconteceram muitas histórias de julgamentos importantes do qual meu pai participou ou das causas em que ele defendeu quando advogado, ofício que voltou a exercer depois de se aposentar da magistratura. Ele adora – e sabe- contar essas histórias, caprichando nos detalhes.

             Meu pai tratava com lhaneza os advogados. Sempre buscava conciliar as lides, sendo equidistante entre as partes, mas auxiliando que achassem um denominador comum para encerrar a contenda. “Não pode deixar o processo dar cria”, é uma frase que traduz a filosofia que ele tinha ao analisar uma causa.

            É salutar para a evolução da sociedade que o tempo passe, deixando para trás características bonitas ou feias das épocas. Mudanças precisam acontecer, mas não sempre de forma radical ou revolucionária.

          Eu peguei o final da época do processo físico. Muito forcejei pelos balcões dos fóruns Rio Grande do Sul a fora para tirar cópia daqueles cadernões. Era importantíssimo saber o nome de quem te atendia no balcão: fazia a diferença na hora de priorizarem alguma petição tua.

          Em comarcas distantes, era fundamental ter um correspondente. Outro advogado para auxiliar com diligências ou mesmo para fazer uma audiência. A advocacia do interior sobrevivia disso.

          Na sala dos advogados, quase sempre encontrei ambientes agradáveis, onde os colegas se juntavam para tomar um cafezinho e trocar experiências. A digitalização dos processos e a pandemia se encarregaram de praticamente extinguir esses momentos.

          As revoluções vêm. Às vezes não para melhor, mas para sempre. Há também os retrocessos disfarçados de revolução.

          Nos últimos meses, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a entidade que deveria fazer o controle de qualidade do Poder Judiciário em todos os âmbitos, tem feito um lamentável esforço para acabar com o direito de os advogados fazerem sustentações orais nos Tribunais. É uma postura, no mínimo, contra as bases da cidadania.

             Não sei se ainda há juízes em Berlim; jamais haverá advocacia calada.

                   

         

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

CREDIBILIDADE DA INFORMAÇÃO

 RUDOLF GENRO GESSINGER

https://www.gaz.com.br/credibilidade-da-informacao/


Considerando o reboliço que houve na semana passada em volta de uma possível taxação do pix, eu não poderia começar a coluna sem comentar a respeito desse assunto.

Inicialmente, não há nenhuma tarifa ou tributação incidente na operação de pagamento por meio de pix.

O que existe é uma comunicação por parte das instituições financeiras à Receita Federal caso sejam realizadas movimentações superiores a cinco mil reais por mês em contas bancárias de que sejam titulares pessoas físicas ou que ultrapassem quinze mil reais mensais, no que diz respeito às pessoas jurídicas.

Transmissão de informações entre bancos e governo, grosso modo, nada de nova tributação... Por enquanto!

No meio dos anos 1990, foi instituído um tributo incidente sobre transações financeiras de modo geral. Chamava-se Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, ou CPMF, a tarifa que se pagava pelo simples ato de transferir dinheiro para alguém.

A CPMF não deixou saudades e a posição oficial do governo federal é de que sua cobrança não será retomada.

É o que se tem por verdade até o fechamento dessa coluna.

O que mais me impressionou ao longo da tormentosa semana passada foi que informações colidentes a respeito do tema da tributação do pix foram publicadas em massa, gerando confusão e revolta insustentáveis em muitas pessoas. Por pouco não houve uma convulsão social.

Uma empresa mineira de inteligência de dados e consultoria empresarial – Quaest – divulgou uma pesquisa que apontou a desconfiança de 67% dos brasileiros de que o governo federal pode começar a tributar o pix, ainda que pronunciamentos oficiais do Presidente da República em exercício e do Ministro da Economia tenham sido em sentido contrário.

Em outras palavras, as pessoas têm dificuldade em saber o que é verdade e o que é desinformação. A própria imprensa precisa reaprender a se filtrar para fazer seu papel com responsabilidade e transparência, de forma que o público sinta credibilidade nas informações que recebe.  

Uma boa dose de crítica por parte de quem consome a informação também é indispensável para evitar paralogismos: não é porque conseguimos enxergar claramente o sol que ele seja exatamente do tamanho que o vemos.

Por isso, caro leitor, muito cuidado com as matérias que os algoritmos trazem entre as notícias do Google. Ali aparecem as informações que devem prender a atenção do usuário. O intuito é esse.

A inteligência artificial logo aprenderá a apurar a veracidade das informações filtrando os conteúdos que têm credibilidade; a todos nós cabe a mesma tarefa.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

A TEMPORADA COLORADA

RUDOLF GENRO GESSINGER

 O futebol profissional é negócio. Porque negócio, segue os pressupostos para o sucesso no empreendedorismo: gestão, planejamento e, permeando ambos, investimento.

A paixão é a motriz não só do esporte, mas de toda forma de entretenimento. Entretanto, é impossível fazer futebol sem investimentos que demandem bastante dinheiro.

No caso do Sport Club Internacional, a temporada de 2024 teve amplificadas – e adiantadas pela Liga Forte Futebol – receitas de cotas de televisão. Com o dinheiro em caixa, se estabeleceu um planejamento a curto prazo para sair do incômodo jejum de mais de quarenta anos: seria formado um time estrelar para ser campeão brasileiro.

Os reforços mais badalados não chegaram a jogar juntos e não corresponderam individualmente, tanto por questões físicas quanto técnicas. A enchente tirou do prumo um time que ainda não tinha encontrado sua formação titular. A troca no comando técnico também atrasou a reação que fez a torcida sonhar em ser tetracampeã nacional.

Mas, mais uma vez, faltou fôlego para disputar o título nas rodadas finais. Mesmo assim, fez-se uma das maiores sequências de invencibilidade do colorado: 16 jogos.

Em razão dos fracassos acima listados e de outras esculhambações, a dívida do clube subiu para oceânicos R$ 693 milhões.

Note-se que a injeção de dinheiro da Liga Forte Futebol foi aplicada em desobediência aos pilares do empreendedorismo, pois se geriu mal um recurso precioso fazendo um investimento caro, a curto prazo, e arriscado demais. Em 2024, o Inter deu um all in e perdeu.

Como se não bastasse, o Conselho Deliberativo não aceitou uma sugestão boa oferecida por uma direção ruim: a emissão de debêntures. Essa alternativa funcionaria impropriamente como um empréstimo, pois os juros pagos pelo dinheiro dos sócios seriam mais baixos do que os praticados na praça.

O produto da venda de Gabriel Carvalho serviu somente para evitar perdas mais expressivas. O incêndio é grande e recusei encher meu bico de água para combatê-lo. Sequer respondi ao e-mail enviado aos sócios para anteciparem 12 mensalidades em troca de camisas de jogo ou outros brindes ilusórios.

Sem café no bule, o Inter volta das férias sem nenhum reforço anunciado e sem perspectivas de trazer novas estrelas, não aproveitando o atrativo de uma Libertadores da América por disputar, já na fase de grupos.

Eu ficaria muito feliz e aliviado se a direção declarasse que o objetivo para a temporada de 2025 é sobreviver.

Seria um gesto de humildade e de sensatez. Nós, colorados, estamos machucados de tantas desilusões.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

SOBRE A TRIBUTAÇÃO

RUDOLF GENRO GESSINGER


Inicialmente, esclareço que não pretendo ignorar a existência do dever fundamental de pagar tributos, ou incentivar que não sejam pagos. É curioso, contudo, que não conheço ninguém que fique feliz ao pagar o IPVA, por exemplo.

Maioria das pessoas faz de tudo para pagar a menor quantia possível de tributos, pois a carga tributária do Brasil é uma das maiores do mundo (atinge 33,7% de toda a riqueza produzida por bens e serviços no país). Por isso, não falta serviço para os contadores.

O Brasil é uma federação, um conjunto de várias unidades estaduais, cada qual com seus municípios. Assim sendo, os tributos que custeiam a atividade estatal são arrecadados pelo Município, pelo Estado ou pela União, a depender da competência tributária de cada ente federativo. A União é a destinatária de maioria dos valores pagos a título de tributos, enquanto os Municípios têm as menores arrecadações.

O tributo é gênero do qual é espécie o imposto. Recentemente, o Governo Federal anunciou que fará alterações na cobrança do imposto de renda, de competência da União.

Em síntese, a ideia é aumentar a arrecadação ao isentar os mais “pobres” e cobrar mais dos “super-ricos”, novo conceito que se refere às pessoas que ganham mais de cinquenta mil reais por mês. Vale lembrar que ainda não foi regulamentado o Imposto sobre as Grandes Fortunas, previsto no texto original da Constituição da República.

Mas é salutar para a economia tributar os super-ricos ou as grandes fortunas? Experiências de outros países indicam que a resposta é não.

França e Argentina, mais recentemente, investiram nessa política e enfrentaram grandes fracassos, com ricos saindo desses países e arrecadações muito abaixo do orçamento dos governos. Objetivamente, os resultados foram insatisfatórios tanto para os governos quanto para os contribuintes.

Super-ricos têm acesso a soluções jurídicas para equilíbrio, organização e, pior ainda para o país, ocultação de patrimônio no exterior. A falta do dinheiro que não é investido por eles dentro do país é compensada pelo aumento dos preços das mercadorias, piorando a situação da camada da população que mais paga tributos proporcionalmente ao que ganha: a classe média.

Se mantido o cenário atual, tudo indica que o Brasil terá de encontrar outra solução para equilibrar as contas públicas. Uma reforma tributária é necessária, mas há que se discutir no Congresso Nacional mudanças mais profundas e duradouras.

Deve ser amadurecida a ideia de o Brasil fortalecer seu federalismo, destinando aos municípios maioria da receita que vem do pagamento de tributos.  

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A NATUREZA SEGUE GRITANDO

 RUDOLF GENRO GESSINGER

  https://www.gaz.com.br/a-natureza-segue-gritando/

  

        Esse é o terceiro texto que escrevo nesse nobre espaço a respeito dos eventos climáticos que têm atordoado todos, especialmente nós brasileiros, nos últimos tempos.

         Já nos parecem distantes os dias que não pudemos ver o céu. Foi na primeira semana de setembro que as queimadas no Pantanal e na Amazônia enfumaçaram não só grande parte do Brasil, mas também países vizinhos.

          Belo Horizonte, por exemplo, chegou a ter o ar dez vezes mais poluído do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representou potencial risco à saúde das pessoas. A prefeitura local chegou a sugerir à população que usasse máscaras faciais para que se protegessem das toxinas soltas no ar. Veja-se a que ponto chegou!

Em Porto Alegre, ainda não foram realizados a contento os reparos necessários nos diques de contenção do guaíba e nas bombas de drenagem. Afora os lugares que ainda precisam ser limpos e reconstruídos, o horror que foi o mês de maio pode voltar a assombrar a capital gaúcha a qualquer momento.

Não sei se as queimadas pararam ou só diminuíram a ponto de a fumaça se diluir mais ao seco norte do país. Simplesmente parou de se falar nesse assunto.

          Nessas últimas semanas de dias lindos, com os jardins florescendo sob o sol ameno da primavera, ist alles blau!

Mas em paralelo ao nosso alívio momentâneo, a natureza segue gritando. As viroses e os surtos de covid que têm ocorrido regionalmente deixam claro que há um desequilíbrio ecológico, pois assim surgem e se propagam as zoonoses.

          Deixamos se perder o costume de passar álcool em gel nas mãos, bem como de higienizar bem os produtos que compramos no supermercado. A propósito, passou da hora de se cobrar pelas sacolinhas plásticas.

Uruguai e Chile cobram o equivalente a cinquenta centavos de real a sacolinha. Que aqui fosse quinze centavos, já ajudaria as pessoas a criarem consciência de levarem sacolas de casa para fazerem suas compras, prática comum na União Europeia há bastante tempo.

Vi muitas pessoas com suas próprias canecas na Oktoberfest: é um gesto ambientalmente corretíssimo. A poluição que se evita ao descartar menos plástico é uma contribuição fácil de se fazer em pequenas atividades do cotidiano e faz diferença no âmbito doméstico.

A atitude de cada um faz diferença para termos o lugar onde vivemos limpo e saudável. Não temos um “planeta B” para o caso de esgotarmos os recursos naturais da Terra a um ponto de não retorno. A natureza não só é linda e importante, ela é necessária para a existência e continuidade da nossa vida.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

QUESTÕES SOBRE AS “BETS”

 RUDOLF GENRO GESSINGER


Menos de um ano atrás, foi publicada uma lei federal estabelecendo as primeiras regulamentações ao que foi chamado de apostas de quota fixa.  Na prática, foram legalizadas no Brasil as casas de apostas online, conhecidas popularmente por “bets”, que se proliferaram no mercado nacional, auferindo lucros muito expressivos nos últimos meses.

Não sou contra a abertura do mercado; pelo contrário, defendo a menor burocratização para se empreender e a redução da altíssima carga tributária suportada pelos empresários.

Contudo, as “bets” se tornaram células cancerígenas na economia brasileira, uma vez que dezenas de bilhões de reais estão saindo do país enquanto os brasileiros – especialmente os socioeconomicamente desfavorecidos – estão se endividando além de um ponto de recuperação. Os números são colossais: beneficiários do Bolsa Família gastaram somente no último mês de agosto três bilhões de reais em apostas online.

Maioria desse valor é depositado nas “bets” por meio do pix ou por cartão de crédito, o que é mais preocupante em termos de inadimplemento, pois sujeita pessoas já hipossuficientes aos maiores juros do mercado.

Enquanto o endividamento das famílias brasileiras sobe, o Congresso Nacional instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a atuação das “bets” no país. Suspeita-se que existam organizações criminosas atuando com lavagem de dinheiro, evasão de divisas, entre outras irregularidades.

Vale lembrar que, ao longo do ano passado, o Ministério Público do Estado de Goiás instaurou a Operação Penalidade Máxima, cujas investigações explicitaram um grande esquema de manipulação de resultados em jogos de futebol profissional, mediante pagamento de propina a jogadores.

Em paralelo à CPI, alterações à já obsoleta “lei das bets” visam a uma melhor regulamentação para operação das empresas de aposta online no Brasil a partir do ano que vem. O Ministério da Fazenda já abriu cadastramento para “bets” operarem regularmente no país, mediante o cumprimento de determinadas regras e requisitos.

Claramente, o Brasil está passando por um problema muito sério e que não se resume aos prejuízos financeiros: estamos diante de uma emergência de saúde pública, a qual exige a criação de políticas públicas de âmbito federal.

Acreditando que apostar pode ser um investimento de alto retorno, quem tem pouca renda gasta o que não tem e normalmente perde. Há notícias de viciados em aposta que perdem o emprego, a família e a própria vida no desespero para recuperar seus prejuízos.

A saúde dessas pessoas merece maior atenção.

 

 

 

sábado, 19 de outubro de 2024

COMPROMETIMENTO

RUDOLF GENRO GESSINGER

A vida exige que tu te comprometas com teus projetos. Precisas fazer acordos, honrar a palavra, vencer os prazos.

Por vezes, contudo, é mais fácil se comprometer com os outros. Tua mãe precisa de algo, teus amigos, teu filho, a empregada. A cada tanto alguém vai te demandar e isso é corolário de assumir responsabilidades. O mais trabalhoso é se comprometer com tuas próprias ideias, dar sequência.

Um mandamento que aprendi pelas pessoas que me criaram foi que não podes deixar serviço pelo meio. Comer tudo que está no prato, se servir aos poucos, não precisas te embuchar.

Enquanto responsáveis, precisamos nos comprometer. Precisamos entrar em um acordo conosco sobre o que queremos para o futuro.

Se não for possível para ti abrir mão de nada pelo futuro, teu destino é ver o presente e suas circunstâncias se apagando. Não desejar nada melhor à frente tende a te deixar à deriva, como um plástico boiando no mar.

Se só olhares para o passado, teres crenças sobre a vida das quais não consegues abrir mão, não viverás mais dentro do presente – o único tempo que existe - quanto menos vislumbrarás o futuro.

Olhar o amanhã por vezes é ter esperança. É lutar por um ideal.

Se não existirem desafios, já morreste e não sabes. “Há mortos que morrem devagar”, acho que foi no Foucault que li esse trecho precioso.

Essa frase se prova verdadeira na imagem de um toco. Antigamente árvore, hoje meio ou completamente seco, apodrecendo. Árvore em pé, por menor que tenha ficado, mas morta por dentro.

 Se passaste por momentos difíceis sem que tenhas superado o esforço do trajeto, já foste algo e agora és uma sombra. Se não tens nenhuma expectativa sobre o futuro, teus sonhos acabam e passas a viver congelado num tempo que não existe mais.

Tu simplesmente não consegues te comprometer com teu futuro. És resultado de algo que não consegues mudar, sendo refém das circunstâncias e das decisões dos outros. Se tu não queres escolher, certamente alguém te imporá o que fazer.

Quem não molda seu futuro é agente passivo da vida.

Poderias ser mais se... Maldito se. Se não fossem traumas, se não fosse teu medo de mudar, se não fosse o apego que tens pelo teu passado. “Se” não faz diferença nenhuma.

Quem vive de “se” se contenta com o “quase”, porque o que tu podes ser nunca vai ser resultado do Se tivesses feito alguma coisa a respeito. Quando te comprometes com algo, tu o fazes. Todos os dias, por menor que seja o progresso.

Pelo teu amanhã. Nem que o amanhã acabe amanhã, fizeste algo a respeito.

Somos resultado de ações, não de suposições.

sábado, 10 de agosto de 2024

DESMETROPOLIZAÇÃO

RUDOLF GENRO GESSINGER         

www.gaz.com.br/desmetropolizacao/

          

          No início para o meio do século passado, a metropolização – fenômeno contrário ao que dá o título desta crônica – impulsionou o êxodo rural conforme o Brasil se industrializava. A população de nosso país acabou por se tornar majoritariamente urbana e a maior diversidade de empregos que o fortalecimento das indústrias criou, direta e indiretamente, amontoou pessoas em volta das crescentes capitais brasileiras.

        A explosão demográfica entre os anos 1950 e 1970 acabou por prejudicar o urbanismo das capitais, pois houve crescimento desorganizadamente acelerado das cidades, muitas vezes sem o adequado planejamento, de forma que os limites entre dois municípios vizinhos acabaram não se tornando claros. O encontro de duas cidades em um único núcleo urbano se chama conurbação.

        Como consequência da conurbação, se formaram as regiões metropolitanas.  

        O último censo demográfico brasileiro, realizado no ano de 2022, registrou consideráveis reduções populacionais nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. Esta última região metropolitana teve decréscimo de quase 10% de seus moradores em relação à quantidade apurada censo demográfico de 2010.

        Mobilidade urbana, custo de moradia, segurança pública e qualidade de vida são os fatores mais clássicos que atraem as pessoas para viverem em municípios menores. Recentemente, a consagração do teletrabalho em muitas profissões alavancou o fenômeno da desmetropolização.

        No interior do Rio Grande do Sul, diversas cidades melhoraram visivelmente sua infraestrutura, com melhores hospitais e educação de qualidade, mas ainda falta emprego. Mesmo assim, os jovens ficam mais tempo, pois há opções de lazer, acesso a bens de consumo, seja pelo comércio local ou pela facilidade que se tornou comprar qualquer produto pela internet com frete grátis ou consideravelmente barato.

        Particularmente, eu entendo que viver no interior propicia a criação de vínculos mais profundos e duradouros, pois existe maior proximidade entre as pessoas. Em regra, te atendem com bom humor, te recebem muito bem em casa, se arranja tempo para conversar com algum amigo ou conhecido que cruzar por ti na rua e tudo se ajeita mais fácil na tranquilidade em que se espicham os dias.

Em suma, observo que quem vive no interior se organiza melhor, escuta mais e não vive esgotado pela rotina que as pessoas normalmente levam numa região metropolitana.

        Caso o leitor se interesse em se aprofundar no assunto, recomendo a obra de Milton Santos chamada A Urbanização Brasileira. É interessante e fácil de ler.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

DUZENTOS ANOS DE ORGULHO

RUDOLF GENRO GESSINGER

    "A celebração do bicentenário é uma homenagem e um agradecimento aos nossos antepassados alemães”. Assim disse em uma entrevista para a Vale TV o presidente da Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã, Rafael Koerig Gessinger, meu irmão.

        Não se trata somente de um momento de festividade pela chegada de uma data marcante no aspecto temporal, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul fomenta e protege um patrimônio cultural que ajudou a moldar a identidade do povo gaúcho ao longo desses duzentos anos.

        Em 25 de julho de 1824, as 39 pessoas falantes da língua alemã – na época, a Alemanha ainda não era Estado unificado – chegaram num remoto território gaúcho com esperança e muito trabalho para construir uma vida melhor.

Exatamente pela necessidade de abrir picadas nos matos do vale do Rio Pardo para construção das moradias, lavouras, igrejas e escolas, foi chamado de Alt Pikade, de Picada Velha e depois de Picada de Santa Cruz o hoje pujante município de Santa Cruz do Sul.

Como ensina Martin Dreher, a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 1824 possuía uma única escola mantida a partir dos cofres públicos: o Colégio Militar de Porto Alegre. Honrando a fibra característica do povo alemão, os imigrantes que aqui chegaram contribuíram para o avanço da alfabetização no Rio Grande do Sul, criando em cada picada novas escolas, com grande contribuição da Igreja Luterana.

Em outros estados do Brasil, a imigração alemã foi marcante no Espírito Santo e mais significativamente contribuiu para formação de Santa Catarina, que conta com cidades em que a culinária, a música, a arquitetura e as celebrações alemãs são atrações turísticas relevantes, casos dos municípios de Blumenau e Pomerode, por exemplo. 

Também é notável e riquíssimo em termos culturais como o regionalismo alemão também se posicionou em diferentes lugares do Rio Grande do Sul.

Panambi, que até hoje tem programas de rádio transmitidos no idioma alemão, teve seu território povoado por imigrantes vindos de Württemberg, no Alto Reno. Em São Lourenço do Sul se tende a falar o idioma alemão no dialeto pomerano. Outras diferenças linguísticas se notam entre as regiões do Vale do Rio dos Sinos, de Igrejinha, de Lajeado e assim por diante.

        Para quem se interessar mais pelo trabalho que a Comissão do Bicentenário da Imigração Alemã e suas subcomissões têm desenvolvido, o site da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul possui uma página que contém um manancial de conteúdo, cujo link colaciono a seguir: https://cultura.rs.gov.br/noticias-6581cd59ef762.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

FUTEBOL EM DECLÍNIO

 

RUDOLF GENRO GESSINGER


Vocês têm visto como está baixo o nível do futebol na Eurocopa? Até o fechamento desta coluna (antes das semifinais), os quatro artilheiros possuem três gols cada, sendo que foram marcados dez gols contra em toda competição. São jogos sem muitas alternativas de jogadas de ataque e de defesas exageradamente abertas e esculhambadas, como a da Itália.

Não que a Copa América esteja enchendo os olhos, afinal historicamente não é o que acontece. Nos jogos que terminaram empatados e foram para os tiros livres da marca do pênalti, foi entregue alguma emoção ao espectador. Na disputa, os goleiros perdedores também brilharam defendendo cobranças.

Na Eurocopa, a prorrogação era só mais 30 minutos de suplício para quem jogava e para quem assistia.  

Esboçada a caricatura, pintemos o fundo do quadro.

O futebol, enquanto produto, deve(ria) ter como foco entregar entretenimento para seu consumidor. Logicamente é importante vencer, mas não sacrificando o espetáculo.

Não ignoro que o futebol se tornou mais físico que nos anos 1980, por exemplo, época marcada por times técnicos como a inesquecível Seleção Brasileira de 1982. Para dar espaço a uma musculatura presa para aguentar a carga de jogos, saíram o drible, a técnica e o tempo de treinamento para cobrar uma falta com perfeição.

Os goleiros são os únicos jogadores com prerrogativa de serem atendidos pelos médicos em campo, interrompendo a sequência da partida. Não é concebível, entretanto, que a cada grande defesa o goleiro se contorça no gramado e chame atendimento médico para “ganhar” tempo.

Circunstancialmente, é uma estratégia para esfriar o ímpeto do adversário, mas usada com muita frequência, só torna o jogo chato, picotado. Nenhum acréscimo devolve a naturalidade do jogo, que os goleiros consomem fazendo cera.

Aliás, será que não poderíamos repensar a extensão do jogo? E se fossem dois tempos de trinta minutos ou três de vinte? Seria condizente com uma época em que aceleramos tudo no mínimo para a velocidade 1.5.

No basquete dá certo jogar em tempos curtos.

A essência popular do futebol, que germinou e fez florescer o esporte, está há tempo minguando.

A começar pelos campos: é preciso uma organização semiprofissional para juntar vinte e duas pessoas para jogar futebol de campo, em qualquer horário que seja. Mesmo no Society é uma luta para fechar dois times, fora que não existem quadras a menos de 10 reais por jogador.

Sem a grama sintética que arrebenta joelhos e tornozelos, beach tennis e padel, por exemplo, têm se mostrado mais atrativos para quem quer praticar um esporte no tempo livre.  

 

sexta-feira, 28 de junho de 2024

SABER DESCANSAR

Saber descansar (gaz.com.br)

RUDOLF GENRO GESSINGER


“Tempo é dinheiro” é brocardo do senso comum do qual dificilmente alguém irá discordar. No mesmo sentido, ser produtivo é enxergado como uma qualidade positiva para maioria das pessoas.

Empreender, manter aparência saudável, viajar, aparecer... quem não quer tudo isso?

Escolhas e renúncias têm seus preços; o que nos faz bem tem valor. Saber descansar é fundamental para melhor eleger o caminho a seguir, porque clareia a visão sobre o contexto de vida.

No sono, nosso cérebro passa por um processo semelhante à limpeza de disco de um computador. Informações menos relevantes são “apagadas” e se consolidam os dados importantes. Cuidados como o de higiene do sono podem nos tornar mais efetivos, aumentando a produtividade no tempo disponível para trabalhar.

Dois dias diferentes terminam: Num tu voltaste de uma festa; noutro, de um velório. O cansaço ao final desses dois dias é diferente, mas a necessidade de dormir é igual, porque te reinicia.

Botar em prática o descanso adequado é muito difícil.

Desligar-se dos estímulos do mundo parece errado. É como se estivéssemos perdendo tempo e, consequentemente, perdendo dinheiro.

Assim, saímos duma tela para a outra. Largamos o trabalho remoto para maratonar uma série, ou ouvir um podcast, ou derreter tempo no Instagram ou TikTok.

Chega uma notificação e interrompemos qualquer programação para ver o que é. A gente precisa saber o que está acontecendo: agora!

Nos finais de semana vamos dar uma volta no shopping para espairecer. Será que dá certo mesmo?

Nem bem ligados, nem desligados, nós, integrantes da sociedade do cansaço de Byung-Chul Han, ficamos que nem uma lâmpada piscante. Nem bem clareia, nem esfria. O que é certo é que a resistência está sendo gasta.

Atingir a meta, superar a meta, dobrar a meta. Prazos. Maioria das vezes, precisamos nos sacrificar.

Calma, às vezes é preciso simplesmente parar. Descansar, não se distrair. Deixar o tempo passar, não gastar o tempo.

Parece cada vez mais difícil. Controlar a ansiedade - mal do século e comadre da depressão – certamente ajuda a estar bem por mais tempo, exatamente por estar melhor descansado.

Além de ser o próprio empresário, saber procurar a própria paz; alinhar os treinos com boa alimentação e descanso ao invés de ir todos os dias para a academia; sentir a cultura de um lugar novo e ir aproveitando, não engessar as férias cumprindo um roteiro de pontos turísticos que podem nem ter sentido conhecer; lembrar pela tua visão, não por um monte de fotos.

Pode ser bem melhor assim.

Bom descanso e até daqui quinze dias!

quinta-feira, 30 de maio de 2024

ERA ASSIM MEU INVERNO

 RUDOLF GENRO GESSINGER


       Essas noites frias de garoa e de bastante vento, que riscam a boca do inverno, me atrasavam o sono quando eu era piá.

O barulho de alguma folha de zinco que levantasse um pouco me assustava. O poncho de carnal vermelho do meu pai me tapava junto com mais uma ou duas cobertas. Qualquer susto, era só se esconder embaixo dele que eu estaria protegido.

       Às vezes eu ouvia barulhos mais fortes de coisas caindo no zinco, como se fosse uma chuva grossa. Eram as bolinhas do cinamomo, que garantiam que o teto estava ali e inteiro.

       Eventualmente, eu mergulhava num sono sem escalas até o começo da manhã. Minha mãe já tinha feito fogo no fogão à lenha, gesto que, por si só, já esquentava o coração da casa.

       Seja ensopado ou carreteiro, a comida que ela faz no fogão à lenha sempre fica uma delícia incomparável!

       Do lado de fora das janelas, tinha um mundo diferente, pois molhado e embarrado, mas também seguro e muito divertido. Sentir o calor de dentro de casa, enxergar os cavalos e a lida acontecendo na mangueira me deixava fortalecido e animado para sair porta a fora.

       As marcas paralelas de pneus logo depois da porteira contavam que minha avó tinha saído para a cidade tarde da noite ou cedo da madrugada. O charme dela era tamanho que até nos seus rastros minha avó deixava alegria.

       De volta para almoçar, eu tinha que limpar as botas na grama ou no pano que tinha na soleira da porta. Entrar em casa embarrando o piso deixava minha mãe furiosa, mas tive que fazer isso algumas vezes por excesso de fome.

       Criei o hábito de ler bastante no inverno muito tempo depois, por isso minhas tardes eram espelhadas nas manhãs. Acompanhar o manejo do gado era minha forma de aprender, ajudar e brincar, tudo ao mesmo tempo.

       Antes do tombo da tarde, eu pegava um caniço e ia para a beira do açude pescar. Assistindo o sol ir embora para a Argentina, eu sentia a suprema majestade da natureza. Até hoje e para sempre, esse será meu grande momento de paz.

Meus pensamentos se emparelhavam e se expandiam igual às ondinhas que arrepiavam a água toda vez que a boia piscava com os peixes beliscando a isca.

“A hora de puxar não é quando correr a linha, mas quando tua cabeça mandar”. Assim ensinaram minha mãe e minha avó, para a pesca e para a vida.

O que eu trouxesse no samburá era o que menos me importava, mesmo porque meu organismo nunca me permitiu comer nada que viveu na água.

Não deixava de ser minha contribuição para as jantas do inverno. Os outros na estância ficavam felizes com os lambaris e jundiás que deixaram de nadar no açude para boiar na frigideira.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

RECONSTRUÇÃO

 RUDOLF GENRO GESSINGER


   Os últimos cinco anos têm enrugado o couro de nós gaúchos. Foram dois anos de pandemia, dois anos de seca e agora uma enchente de dimensões estaduais sem precedentes que muda os rumos de 2024. Aliás, esse era o ano para a agricultura do Rio Grande do Sul desatolar, mas quem ainda tinha a soja “do tarde” ou arroz para colher perdeu o resto da lavoura.

      Essas perdas inerentes ao risco do negócio acabaram sendo insignificantes perto da devastação na vida de quem perdeu alguém ou perdeu tudo. A coragem dos voluntários e a solidariedade de quem doa o mínimo que seja têm unido nosso povo de uma maneira comovente e exemplar.

Corremos risco de ficar desabastecidos de água potável e por isso é fundamental poupar. 

Estamos vivendo o paradoxo da água: o donativo mais importante para os desabrigados é água, o mesmo elemento que invadiu suas casas e os forçou a estarem ali. Falta água encanada apesar de não parar de chover.

       Por enquanto, estamos sobrevivendo à enchente. Quando a catástrofe tiver números finais, começa a parte mais demorada e difícil que será a reconstrução de casas, de estradas e de vidas inteiras.

       Será um desafio que dependerá da união, do trabalho e da solidariedade do nosso povo.

A Alemanha ficou debulhada depois das guerras mundiais, mas se tornou potência em todos os sentidos depois de ter sido reconstruída pelo seu povo. Os imigrantes alemães, de quem descende maioria da população de Santa Cruz, abandonaram o mundo que conheciam levando fé e trabalho. Abrindo picada, construíram do zero um dos municípios mais imponentes do Rio Grande do Sul.

       Quanto ao Governo Federal, precisaremos de ajuda para criar empregos para toda a gente que precisa recomeçar a vida. Já passou da hora de ser menos burocrático e caro empregar formalmente um trabalhador. Ao mesmo tempo, precisa ser facilitado o acesso a crédito para quem quiser empreender.

       De uma forma ou de outra, é inadiável que respeitemos a força da Mãe Natureza. Se for necessário, deixe tudo para trás e saia de casa, pois o nível de um rio pode subir ligeiro.

Não faltam estudos para entendermos como viver sem agredir nosso planeta, que é nossa casa. As consequências das ações da humanidade não respeitam os limites territoriais que criamos.

Assim que conseguirmos nos recuperar, já precisaremos pensar em como ajudar os outros. Os problemas ambientais são comuns a todo Brasil, logo as soluções devem ser mais amplas que os problemas locais.      

Aliás, a região do Pantanal está enfrentando uma seca que pode atingir níveis críticos até o final do ano. Sabiam?

                

 

terça-feira, 7 de maio de 2024

OLHO NO PACHECO

 RUDOLF GENRO GESSINGER


        Rodrigo Otavio Soares Pacheco, 47 anos, é radicado em Minas Gerais, advogado e atual presidente do Senado. Cabe lembrar que é condição de elegibilidade para o cargo de senador a idade mínima de 35 anos, portanto Rodrigo Pacheco pode ser considerado jovem para seu mister.

       Autêntico gentleman, Rodrigo Pacheco lidera de maneira serena, busca não desagradar nem o governo federal, nem a oposição, apesar de ser assertivo em seus posicionamentos. Típico mineiro, está alcançando uma posição central na política nacional brasileira ao comer pelas beiradas.

Pacheco deixou bem claro: enquanto for presidente do Senado, não passará nenhum pedido de impeachment de Ministros. Essa é uma precaução salutar para nossa democracia, para a economia e reputação internacional do Brasil e para lembrar as pessoas de que deve existir harmonia e independência entre os poderes do Estado.

Outrora não se procurava tampar as panelas como faz Pacheco. O leitor deve lembrar de como foi pitoresca a votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Gritarias, homenagens ridículas, acusações e longos discursos vazios podados pelo impassível Eduardo Cunha ao perguntar “como vota o Deputado?” foram a caricatura da bagaceirice que existe na política nacional.   

Mirando a candidatura para governador de Minas Gerais nas eleições de 2026, Pacheco está evitando indisposições e, de quebra, aumentando capital político. A PEC das Drogas, por exemplo, foi uma resposta cívica ao julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da descriminalização do porte de maconha para uso pessoal.

Pacheco defende que os Poderes do Estado exerçam suas funções típicas: o Judiciário julga; quem legisla é o Legislativo. Botando cada um no seu lugar de maneira polida e ao abrigo da legalidade, o presidente do Senado se articula sem alimentar a polarização política, a qual desidrata qualquer debate e nos atrasa enquanto democracia.

Garanto que Rodrigo Pacheco seria um bom vizinho: é desse perfil que nossa política precisa. Bem cotado no quinto maior colégio eleitoral do país, Pacheco será nome forte ao governo do estado de Minas Gerais as Eleições de 2026 e certamente os futuros candidatos para Presidente da República se empurrarão para contar com seu apoio político.

Acredito, inclusive, que o futuro reserva um lugar para Rodrigo Pacheco no Palácio do Planalto. Tem muito chão até lá, mas sinto que terei o prazer em votar num homem que parece digno de ocupar a cadeira da Presidência da República e à altura do desafio de unir uma nação sem ser quem grita mais alto. 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

LEALDADE

    RUDOLF GENRO GESSINGER

   Toda relação interpessoal verdadeira tem como esteio a lealdade. O mesmo vale para a relação entre animais domésticos ou deles para com seus tutores.

Tanto são dignos os bichinhos que o Canadá alterou sua legislação, poucos anos atrás, para considera-los “pessoas não humanas” ao invés de coisas, como entende o nosso Direito. A faxina vintenária do Código Civil, ainda em andamento, tende a posicionar a tutela jurídica dos animais de estimação perto ou junto da regulamentação sobre a(s) família(s). 

Vejo a lealdade brilhar no transparente olhar da Sissi, cadela Boxer tutelada pelos meus pais e por mim, em menor medida de tempo, mas em igual intensidade de carinho. Evidentemente, existe lealdade no mundo dos homens, ainda que estejam se distanciando pela instantaneidade da comunicação, pela liquidez das relações e por outros paradoxos de nosso tempo.

Mesmo assim, considero seguro afirmar que a racionalidade nos leva a julgar absolutamente tudo, ponderar sobre todo e qualquer assunto, em detrimento da lealdade, se necessário for. Sobem à cabeça as potenciais vantagens. Até que ponto as pessoas estão prontas para sacrificar seu bem-estar para a proteção do outro?

Uma pessoa leal pensa no melhor para o seu grupo antes de pleitear vaga num clube de vantagens. O futuro depende de sacrifícios, de tempo empreendido, de prioridades. Tudo que exige sacrifícios é extremamente difícil de ser executado com boa vontade por qualquer indivíduo. Apenas aqueles que olham para o futuro sacrificam algo no presente.

O presente é uma dádiva para o teu futuro: pode enxergar assim! E como é triste alguém que olha para o presente como seu próprio fim. A tristeza do imediatismo corrompe a lealdade, pois só se consegue ser leal aos seus próprios interesses momentâneos.

Ser leal muitas vezes se traduz na necessidade de ser rígido com pessoas da tua mais alta estima. Ralhar teu cachorro para afastá-lo de um perigo oculto para ele. E passar a mão na cabeça de quem comete verdadeiros atentados contra o futuro não é uma prova de lealdade, mas de covardia.

Tomar decisões duras e agir em favor de algo melhor é encargo da lealdade. Parte de ser leal é aceitar o peso das tuas decisões. Pode ser triste aceitar que pessoas a quem foste leal simplesmente partam por não suportarem o sacrifício por um futuro melhor. É esse o preço.

Finalizo esse humilde texto agradecendo à lealdade de Alex Kunrath - santa-cruzense de coração - que, há quase dez anos, cultiva comigo uma amizade de reflexões, comemorações e frieza para planejar decisões difíceis.