segunda-feira, 1 de maio de 2017

AINDA BELCHIOR


APENAS UM RAPAZ LATINO-AMERICANO

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Serei rápido. Mais uma da nossa geração que se vai.

Veio do Nordeste, não formou “panelinhas”, grupos, e com extrema força e talento deixou uma bela obra.

Sempre te escutei.

E, mesmo dando a cara ao  tapa, ouso perguntar: não foram segmentos da chamada contracultura  (dois de seus mais famosos nomes, nasceram aqui na Bahia,– de onde escrevo) que alijaram (consciente ou inconscientemente) outras correntes, outras vozes, outros talentos,como o próprio Belchior?

Eu sei, eu sei, houve a ditadura. Mas foi só ela que alijou a música de protesto, que mesmo com tanta lambada nas costas, buscou captar as raízes da Nacionalidade, deste Brasil difícil, desigual, e que todos nós amamos?

Não na fórmula da ditadura “Ame-o ou deixe-o!”

Há muitos anos, Henfil  (1944-1988)já pensava assim: numa charge de sua autoria, alguém indaga:, mais  menos assim (escrevo de memória):“Ninguém vai responder à  Ordem do Dia?”

(Na época, tais ordens eram muito comuns e escritas pelo Ministério do Exército – agora são “Comandos”) Alguém responde: “Não precisa. Caetano e Gil já falaram”.

Num momento de homenagem, Belchior, não deveria falar assim.

Mas a gente persegue verdade. Espero até estar errado na minha avaliação.

Mas creio que também Zé Ramalho (1949), Ednardo (1945), Fagner (1949) e outros não entraram totalmente no esquema da grande mídia, da canonização ou divinização em vida e da bajulação extrema.

O preço não é pequeno.

 

O amigo foi como muitos, apenas um rapaz latino americano , sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes  e vindo do interior.

Um rapaz latino  americano, brasileiro, que admirávamos muito.

E vai-se Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes – que preferiu ser chamado apenas de Belchior.