terça-feira, 19 de julho de 2016

BELO ARTIGO DE PABLYTO NICOLA EM ZH DE HOJE

A soja e o custo de produção

Para a maioria dos produtores passou “a lo largo” a hora de fixar os custos da lavoura para a próxima safra e garantir um resultado satisfatório. Certamente os mais capitalizados já o fizeram.

No Rio Grande do Sul, quem produz soja com produtividade similar à média do Estado, aferida nos três últimos anos (47,32 sacas por hectare), e paga arrendamento equivalente a 12 sacas por hectare ao ano, o custo para produzir uma saca de soja é de R$ 70,39.

O preço estabelecido pela Cooperativa Agrícola de Tupanciretã (Agropan), por exemplo, para contratos futuros – maio de 2017 foi de R$ 80,00 a saca de soja, o que resulta para o pequeno e médio produtor um lucro bruto 13,65% sobre o faturamento. Historicamente foi de 27%, o dobro da lucratividade de hoje.

O índice que desenvolvi como referência ao preço da soja, indica uma sobrevalorização de 6% no preço atual. A tendência da soja é recuar e estabilizar-se em R$ 74,26. Para um custo de R$ 70,39? Complicado.

Com a redução na margem de lucro, mais do que nunca deveremos estar atentos à venda de nossa produção. Perspectivas de redução de estoques elevam significativamente o preço por algum período. É onde uma boa gestão pode identificar esses momentos e melhorar a lucratividade.

Preocupam as previsões que indicam precipitações de chuva abaixo da média para a próxima safra. Baixa lucratividade e alto risco não deveriam andar juntos, ainda mais na agricultura.

Outro fator a ser levado em conta em época de vacas magras é o custo de subutilização do maquinário. Em áreas plantadas menores de 400 hectares, o custo vai aumentando significativamente. Valor invisível, pesado demais para atividades de baixa lucratividade. Que o digam os profissionais da indústria. É o pesadelo em épocas de crise.

Na média, a soja sempre foi uma atividade excepcionalmente lucrativa e certamente continuará a ser lucrativa, porém com margens bem menores, mas para tanto se faz necessário uma gestão financeira um pouco mais técnica e um pouco menos intuitiva.

Mais do que nunca uma rotina bem definida para a aquisição de insumos e para a comercialização da safra se faz necessário.

Grandes mudanças na economia exigem grandes mudanças na gestão financeira e uma reavaliação de procedimentos. Houve épocas em que a paridade entre o saco de adubo e a saca de soja determinava o momento ideal para a compra desse insumo. Foram épocas em que os fungicidas, mão de obra com seus encargos e os juros altos não representavam tanto no custo da lavoura.

É, foram grandes as mudanças.

PAULO NICOLA - AGROPECUARISTA E ENGENHEIRO CIVIL, DIRETOR DA NICOLA E FERNANDES