quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

CHEGOU ALICE - POR FERNANDO BARTHOLOMAY





 
 
CHEGOU ALICE
 
            Mesmo que eu não seja o primeiro vovô coruja, permitam-me – e perdoem-me - os prezados leitores escrever sobre as delícias de ficar avô. Nasceu Alice, minha neta. Forte de físico, de choro poderoso ao exigir do leite materno e com aquela beleza que só os netos da gente têm. Boas vindas, pois, à catarinense Alice, mistura interessante de gaúchos, paulistas e mineiros, com ascendência alemã, portuguesa e japonesa.
            Não só meu enlevo com o primeiro “vovozado” é o que me faz escrever este texto. Tenho preocupações com o futuro de Alice nesta República. Em boas mãos eu sei que ela está: minha filha e genro têm as qualidades necessárias para serem pais responsáveis. Como cidadãos de bem saberão educa-la para o respeito ao próximo, o amor à Pátria, o temor a Deus e a observação os deveres de honestidade, responsabilidade, comprometimento e solidariedade. Fora algum improvável percalço, Alice também será uma cidadã de bem. O que me encanzina é o Estado.
            Alice nasceu num Brasil devastado moralmente. O ano entrante, salvo pela Providência Divina, está fadado a ser amargo. Economia, sociedade, política, justiça, nenhum campo se presta para boas previsões. A ética derrete em todos os cantos; os bons exemplos rareiam; a vigarice intelectual, moral e material viceja. Os anos vindouros, mantendo-se quem nos dirige, nem um pouco melhores tenderão a ser.
            De qualquer sorte, isso sempre existiu. Meu pai dizia que onde os seres humanos progridem em sociedade sempre haverá “velhaco, china e borracho”. E aduzia: “mas muito mais homens de bem”. O problema hoje é que parece que os homens bons perderam a vez e a voz. Em contrapartida, especialmente os velhacos se instalaram em todos os nichos da sociedade. Não é por menos que os presídios de Curitiba “abrigam” figuras proeminentes da República, expoentes da elite empresarial e da elite política lado a lado com elementos do submundo dos doleiros e lobistas. Além disso, altas figuras do Executivo e do Legislativo, de ontem e de hoje, estão sob intensa investigação. Os altos escalões de Brasília não têm credibilidade para informar o dia da semana.
            Em outra ponta, arrasta-se como cadáver insepulto um Governo natimorto (envenenou-se com a própria hipocrisia durante a gestação). Anda por aí, de um lado para o outro, como zumbi em busca de alimento, no caso, algumas gramas credibilidade. Enquanto vaga, de suas pústulas vertem novos escândalos, o próximo mais espantoso que o anterior. E dissemina no seu vagar os vapores pestilentos do autoritarismo, da chicana política e jurídica, junto com uma infecção quase incurável: o descaramento hipócrita dos delinquentes contumazes.
            Além disso...mas, esperem, eu devo é falar de Alice! De Alice que é vida nova, que é esperança, que é luz, mesmo que este Governo tenha gasto para manter-se no poder o patrimônio dos que vieram antes de nós, o nosso e possivelmente o dela também. Ora, enquanto as pequeninas e pequeninos nascerem para encantar pais, avós, familiares e amigos, sempre haverá algo de bom para acontecer.
            Bem vinda, Alice, minha ligação com a imortalidade pela genética e pela memória. Deixemos esses ogros do presente de lado um momento e nos deliciemos com o que efetivamente importa: a vida renovada!
 
Fernando Bartholomay
Advogado