sábado, 11 de julho de 2015

O ATARDECER NA SOLIDÃO E RAREFAÇÃO DE GENTE DE UMA ESTÂNCIA,FAZEM ABSOLUTAMENTE IRRELEVANTES QUESTIÚNCULAS COMO A CRISE DA GRÉCIA





Hoje é a festa de 80 anos do sogro do  meu capataz, lá na localidade Cantina, município de Unistalda. Diz que vão  umas 500 pessoas. Maristela e Rudolf já  saíram para lá. Não tenho como exigir que a peonada me faça companhia,pois essa festa é a dona de seus pensamentos há meses.
Não posso deixar as casas sozinhas, assim que me encontro solito, casereando,acompanhado de quinze cuscos e de uma amiga de tantos anos, da qual tenho registro ante as autoridades competentes, fiz curso de armamento e tiro na academia de Polícia e, por vezes, tenho vontade que um ladrão venha me visitar. Aprendi cedo que se sacar a parabela é para derrubar. O primeiro tiro é no local certo. Se for preciso, tem mais azeitonas na fila.
Hoje muito de madrugada fui em Santiago buscar uma peça de trator e depois voltei.
Não vi minha adorada Serena Williams derrotar a magrela  espanhola, nem li jornais. Só  abri mails e nada mais sei do mundo.
Nem sei se o Inter vai jogar hoje ou amanhã.
Mas vendi  uma carga de vacas vazias, revisei  os ovinos que vão para a Expointer, remanejei os touros e as novilhas tatuadas. Ao meio dia assei um " granito" sem osso ( Brustkern) e uma linguiça campeira.
Vejo o sol se pondo  para os lados da Argentina e do Chile. As galinhas vão procurando abrigo nas árvores do pomar, marrecas dão uma última revoada e partem em formação angular nesse céu plúmbeo.
O fogo crepita na lareira.
Tenho pão, queijo, salame e vinho.
Nada, pois, me falta.
Não me interessa a crise grega.
Se o mundo falir, aqui tenho um telhado, uma cama, ponchos, botas, galinhas, ovelhas, vacas, cavalos e água pura.