terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O TREM DE SANTIAGO RS



 

 

Quando assumi a Comarca de Santiago, em 1975, o asfalto só ia até São Pedro. De lá em diante era buraco e pedra.O melhor era, nas idas a P. alegre, tomar o trem.

Ele saía de Santiago 8 da noite  e chegava em P. Alegre 8 da manhã. Baldeação em Santa  Maria. Havia um vagão leito:eu comprava  as duas passagens e, portanto,dormia sozinho no meu camarim. Durante a viagem gostava de ir ao vagão restaurante “ prosear” com os passageiros e, quem sabe, tomar uma geladinha.

Certo dia um amigo meu de Santiago, que tinha uma filha morando em P. Alegre,cismou de visitar o tal Gigante da Beira Rio. Realizaria  seu  sonho dourado. Era um Gre-Nal que começaria 16 horas de domingo, de sorte  que daria tempo para , às 20 horas, tomar o trem de volta.

Sábado à noite, portanto, pilchou-se a caráter para impressionar bem os de P. Alegre e embarcou. No  vagão restaurante encontrou-se com uns vizinhos da região onde tinha sua estância.  Ocuparam uma mesa e mandaram baixar as Brahmas,enquanto jogavam truco. E dê-lhe truco e cervejas até o trem chegar.

Nosso amigo desembarcou, meio “tastaviando”, tomou um taxi e se foi para o apartamento da filha, que já o esperava com  um lauto café. Abraçou- a  mas disse que ia dispensar o café e que tudo o que queria era tirar uma pestana. A filha e o genro o ajudaram a descalçar as botas de garrão de potro  e ele avisou:

- vou tirar um cochilo, mas me acordem meio dia!

O nosso gaúcho desabou sobre o sofá e se foi para os braços de Morfeu.

Lá pelas tantas acordou em sobressalto com um baita foguetório. Na hora não sabia onde estava, até pensou que eram aqueles adversários  políticos de bosta comemorando mais uma vitória.

Abriu os olhos e seu netinho de 5 anos exclamou:

-  vô, ganhamos de 2 x 0!

Ele olhou incrédulo para a filha:

-paizinho, tu tava dormindo tão bonitinho que não tive coragem de te acordar.

Não restou outra alternativa ao  nosso maragato se não calçar as botas  e voltar para a estação...