domingo, 24 de agosto de 2014

DA BANALIZAÇÃO DAS EXÉQUIAS - COMENTÁRIO DE LISSI BENDER - UNISC


Desenhaste um quadro bem realista. Extirpamos a vida em nossas águas, envenenamos nossos campos, espalhamos lixo por nossas várzeas que antes tinham flores.
Dessacralizamos a vida e fazemos da despedida terrena um  evento de entretenimento ou para interesses pessoais. Tiramos as velas do velório, afastamos o velório de nossas crianças e de nossos lares. Da morte, certeza única na vida, queremos poupar nossas crianças que aprendem a viver como se eternos fossem. Não mais se integra a morte na vida. Como se dela não fizesse parte. Nem integramos a vida à morte. Já observaste nosso jardins da vida eterna? Verdadeiros desertos; sem espaço para nele crescerem árvores, nem flores, nem bancos convidativos para que o visitante possa neles se deixar ficar e refletir sobre a vida e a morte. Nada que lembre vida, nada que atraia vida, nem aves. Para aqueles que geraram nossas vida, nem o direito de voltar à terra e a ela se integrar permitimos. Erguemos muros altos e neles os engavetamos. Vida eterna enquanto o muro não despencar. Tenho a impressão que vivemos um processo de desumanização, de coisificação da vida e da morte.