domingo, 18 de maio de 2014

UM DINOSSAURO E A MARCHA DA MACONHA - por DR. IVAN SAUL *



*( MED.VET, pós doutorado, produtor rural , atualmente exilado no longínquo Paraná)


Com licença meus senhores, vou cantar de contraponto!

Não por maldade e sim por malícia, aproveito o sábado - que os poderosos não mantém plantão*. Segunda-feira o debate será ideologizado pela 'cibermilitância', hoje, todavia, tenho o pocinho só pra mim, dou uns pontas e nado fazendo mareta.

Eu que sou um 'liberal extremado' - me aproprio da expressão do Confrade Hermes - no caso em tela, me posiciono contrariamente ao debate.

Atenção, quando me refiro ao 'debate', quero dizer aquele salutar intercâmbio de opiniões que, se não baseadas em aprofundados estudos, sejam provenientes de experiência no tratamento das questões propostas. Não aquela coisa de 'discutir na plenária', 'tirar uma comissão' e chegar à conclusão que atende aos interesses do poderoso de plantão - o pensamento hegemônico do 'soviete'.

A manifestação, a Marcha, tema inicial desta conversa, pode e deve ocorrer, é própria da democracia, é a liberdade de expressão que deve ser exercida sempre e quando não interfira com a liberdade de ir e vir ou cause dano pessoal ou patrimonial e tudo mais... sempre achei bárbara aquela coisa do Hyde Park em Londres. Um Parque Real que reserva espaço à livre manifestação, onde qualquer cidadão pode falar mal da monarquia pregando as maravilhas do regime republicano, exemplificando com os cases de sucesso: República Federativa do Brasil, República Argentina, República Popular da China, União das Repúblicas Socialistas Soviét... ah, não, essa já era! Enfim, um luxo que se podem dar os civilizados.

O Debate sobre a liberação da maconha.

Este, meus amigos, que pronto será partidarizado aqui mesmo, neste fórum, é improfícuo. Resultará em prejuízos aos interesses maiores do 'bem comum', sejam quais forem suas conclusões, o menor deles, o prejuízo caracterizado pelo atentado às liberdades individuais pela simples proibição - que deve presumir maiores controles.

Ahá! Agora pisei nos calos 'duns alemão' que apareceram antes de mim! Com a metade não dá pra debater pois teria que buscar inconsistências na sua obra, assim Seu Goethe e Seu Brecht, peço vênia e vou em frente, enfrentar os Magistrados.

Um pouquinho de história e geografia. A Cannabis Sativa, uma vez conhecida como Linho Cânhamo, é uma herbácea anual que se presta à fiação, ao fabrico desde cordas até os mais finos fios para produção de tecidos, o linho daqueles ternos brancos meio desleixados que a malandragem, os playboys, os bon vivants usavam, acompanhando o chapéu Panamá, durante o período jurássico.

Mais importante, até o advento da propulsão à vapor e consequente substituição, as navegações, as grandes descobertas e as maiores e mais gloriosas batalhas navais, foram baseadas no cordame que segurava as velas e possibilitava as manobras. Pois bem, cordame e velame eram, então, estratégicos e assunto de segurança nacional. Preocupação e monopólio da Coroa Portuguesa, a qual instalou, primeiro em Pelotas, na Ilha da Feitoria e, depois, em São Leopoldo, no Bairro Feitoria; a "Feitoria do Linho Cânhamo", lavoura estatal, como uma MACONHABRAS.

 [Que ideia hein?! Terminar de quebrar a Petro e investir na produção e processamento de entorpecentes orgânicos - Der Grüne Punkt!]

Acontecia, naquele tempo em que não haviam multinacionais de sementes e genética, que as sementes pro cultivo do próximo ano deviam ser produzidas no próprio estabelecimento. Bom lembrar, neste ponto, que o princípio ativo psicotrópico da Cannabis - o THC - só é produzido pela planta após o estágio vegetativo da floração, quando está 'sementando'. Aí, então, os encarregados do banco de germoplasma, com manhas de se queixar das condições de trabalho, acrescidas da ganância e corrupção moral de seus supervisores, estabeleceram a traficância. Alcançavam, por preços módicos, ao resto dos 'escravos do eito', algumas folhinhas fumáveis do risível e idiotizante alucinógeno recreativo. Aliviavam o fardo do trabalho escravo - de quem trabalha e nunca vê a cor do dinheiro - coisa incompreensível nos dias que correm.

O tal princípio ativo, teve e tem indicação farmacêutica, contra a asma e a depressão do câncer. Como todos sabem, está regulamentado, quanto ao seu uso e produção, no Uruguay. Diz-se que, por pressão de seleção, melhoramento genético, o THC é hoje, muito mais potente ou está mais concentrado que há 20 ou 30 anos. Bill Clinton, disse que fumou mas não tragou... enfim, basta de enciclopédia, a maconha é considerada, o entry level, para o mundo das drogas.

É claro que, dados o debate e a consequente regulação, onde a proibição da venda para menores de 18 anos será um dos primeiros artigos, os adolescentes do pós-legislação amadurecerão por decreto e saberão esperar a idade legal para comprar e consumir maconha. Alguns, somente alguns, portadores de desvios sociopáticos, pedirão para algum 'de maior' intermediar as suas compras mediante justa comissão, descaracterizando o Tráfico pela origem legal da mercadoria [com direito ao ticket de caixa].

Bueno, meus dois amigos, Gessinger e Fetter, vocês têm a boca torcida pelo cachimbo da Justiça, apreciam dar voz às partes, obrigam-se, como deformação profissional, ao contraditório embutido no devido processo legal. Eu, que sou uma besta, só escuto o contraditório durante um surto de cinismo - sendo este a dúvida à que me obrigo em determinados temas - não tenho questões por serem respondidas, não por aqueles de quem já conheço o posicionamento.

Regulamentar a produção e consumo de maconha é, indiretamente pelo caminho mais curto [olha a violação das leis da física], tornar legal a produção e consumo de maconha, é levar aos tribunais uma questão meramente administrativa, procedimento policial básico - uns tapas e um 'chá de banco' à espera dos pais [a 'Pena' é sair da cama no meio da madrugada pra ir buscar o anjinho na delegacia].

Ir aos tribunais pra decidir se: "Aquela mudinha que brotou no vaso da samambaia da sala-de-estar, viola o código ao somar-se aos outros seis pés da área de serviço, Doutor?"

Desculpem, meus amigos, não consigo filosofar sobre este assunto... aliás, permito-me uma última reflexão:

"Se as drogas já são uma questão de Saúde Pública, debater sobre uma legislação para a maconha, é como discutir a legalidade da vacinação infantil."

Um grande abraço e bom domingo à todos... do Ivan Saul.