domingo, 26 de janeiro de 2014

UM SOLDADO EMBAIXO DA CAMA


Franklin Cunha

Médico

 

 

“Todo império tem que  saber o que fazem os que estão sob seu domínio. O mais grave no  império bélico-informático atual é que seu domínio não tem limites”.

José Pablo Feinmann in

Filosofia política del poder mediático., Ed. Planeta, B.Aires

 

Julian Assange, no seu exílio na embaixada equatoriana em Londres,escreveu um livro Cypherpunks do qual extraímos alguns trechos.

“ Agora  existe uma ocupação militar do ciberespaço. Quando nos comunicamos com a internet ou através de telefones celulares, agora estão entrelaçados com a rede mundial, nossas comunicações estão sendo interceptadas por organizações de espionagem militar.Estamos sob uma lei marcial no que respeita nossas comunicações. Tanto que a internet que originalmente estava inserida num espaço civil,se converteu em um espaço militarizado. Enfim, todos nós temos um soldado embaixo de nossas camas”.

Todo o mundo conversa com todo o mundo, pois no Brasil já existem mais telefones celulares do que habitantes. As pessoas já colocam o aparelho debaixo do travesseiro senão não podem dormir. Seu sinal é imediatamente respondido e tudo o que sai dele é muito importante. Não nos damos conta que esta importância não está na mensagem, mas no meio. Enfim, na verdade, o telefone móvel se apossou de seu usuário e seu eventual extravio põe o  proprietário e a família inteira em estado de alerta e até de pânico.Inicialmente  ele era usado para mensagens importantes, de certa urgência e utilidade, hoje qualquer conversa de absoluta inutilidade pode demorar longos e caros minutos.

O mais grave é que Jules Assange  em recente entrevista ( agora confirmado por Edgar Snowden) denunciou uma nova situação mundial na qual a “Agência de Segurança Nacional dos EEUU e o Google se associaram na tarefa de cibersseguridade por razões patrióticas de defesa nacional “.

Com estas notícias, ficamos pensando que o 1984 do Orwell pode hoje ser lido como uma historinha para crianças diante da abrangência totalizadora de todos os meios de comunicação.

E se Orwell escreveu sua história pensando no regime soviético, hoje o Grande Irmão,  surpreenderia ao autor de 1984 ao situá-lo na outrora democracia, sede do capitalismo mundial.  E antes de Orwell, um russo Euguenyi  Zamiatin, na sua novela intitulada NÓS de 1922,ao denunciar o regime soviético, profetizava o que aconteceria numa fantástica distopia baseada no controle e na uniformização do pensamento. Dizia Zamiatin: “ o que permite este fato é a matematização do real onde as tábuas dos mandamentos horários sincronizam as atividades produtivas e as lúdicas permitindo a uniformização das pessoas a tal ponto que um dia se chegará à abolição do indivíduo”.   

E quando se vê e se observa que em todas as salas de espera  se encontram sistematicamente as mesmas revistas e jornais e quando às 20horas de todas as noites, todas as classes sóciais assistem as mesmas novelas e as mesmas notícias, “ a fantástica distopia” de Zamiatin e o Grande Irmão de Orwell já são uma poderosa realidade.

E já se habita plenamente no “ Admirável Mundo Novo” de Huxley