domingo, 8 de dezembro de 2013

VIVEREMOS 140 ANOS ?


Franklin Cunha

Médico

 
“ A expectativa de vida sobe para 74,6 anos”.( Dos jornais)

 

No anuário L´Année  Scientifique et Inustrielle de 1891, lê-se que a duração média da vida humana à época era de 33 anos. Hoje, segundo o IBGE, cento e pouco anos  depois, nossa  expectativa de vida mais do que dobrou. Outros fenômenos biológicos ocorreram nesse mesmo período de tempo. A idade da primeira menstruação caiu de 16 para 12 anos e a da menopausa cresceu de 45 para 50 anos. O número de filhos baixou de sete para menos de dois e de cada quatro cidadãos do primeiro mundo, um tem mais de 65 anos. E o casamento monogâmico e perene tornou-se quase um achado arqueológico.

A visão futurista é a de um mundo onde se poderá viver 140 anos. E tal fato, com a crescente velocidade dos avanços da biotecnologia e das condições sócio-ambientais, não levará um século.

As implicações sociais de um mundo habitado por macróbios pode nos preocupar, no entanto o progresso das ciências naturais nos faz imaginar um futuro homem de 140 anos com a vitalidade e as potencialidades físicas e intelectuais de um executivo atual de 50 anos.

A velhice, esta condição do passado humano – dirão os médicos do futuro – era acompanhada por uma desorganização da memória que podia diminuir ou desaparecer, o que anulava as vantagens de uma vida longa. Se a senectude equivale a uma baixa na entropia por degradação da energia celular, a informação, ao se acumular, torna-se uma entropia ao contrário. Por exemplo: a que se acumulou através do tempo no código genético,se renova constantemente no sentido de uma organização cada vez mais elaborada . E Chomsky provou este fato pela sua descoberta da existência da gramática generativa.

As histórias de ficção científica que traçam cenários habitados por seres humanos a salvo das degenerações física e metal, fazem uso de bancos de memória, transplantes de cérebros, clones e robôs bióticos.Os clones em cadeia tornariam os indivíduos cada vez mais ricos de informações, pois cada  nova duplicação conservaria  a memória dos clones anteriores. Estes

 e os robôs bióticos poderão, em nome da eficiência no trabalho, ser programados tanto para executar tarefas específicas como também ser impossibilitados, de rir, chorar, amar e reivindicar alterações em sua tarefas. A idéia é antiga, Huxley,Orwell, Zamiatin, Karol Capek, já imaginaram e se preocuparam com tais panoramas  possíveis no futuro.

Imaginemos o seguinte cenário: um ser humano “autêntico” se apaixona por uma jovem da qual desconhece a origem, não a social mas a biológica( reprodução sexual ou clonagem) ou biotecnológica ( robô biótico).

- Desculpe-me Rê, ainda não sei se seu nome é Renata ou apenas  um código de fábrica. Faço a pergunta querida porque ainda não te vi comer, chorar ou rir.

A moça fisicamente perfeita, parecendo recém saída de uma linha de montagem ( ou de clonagem), sorri levemente e começa comer uma maçã.

- Isto não me leva a nada, meu bem. Tua cópia pode ser tão perfeita e o mecanismo tão sofisticado que até o ato de comer e sorrir podem ter sido programados para te fazer mais  verossímil

Rê vira o rosto, finge tossir, enxuga uma lágrima e corre sem se despedir, para pegar seu aerônibus.”

Franklin Cunha

Médico