domingo, 8 de dezembro de 2013

LONGEVIDADE - CONTRAPONTO DO JOVEM ESCRITOR AL REIFFER


Caro amigo, Ruy, permita-me fazer um contraponto ao texto de Franklin Cunha, o qual me pareceu otimista em demasia, utópico, até fantasioso, eu diria, não levando em conta inúmeras variáveis. Lembrou-me a crença das pessoas em geral ao final do século XIX. Devido ao progresso e aos inquestionáveis avanços científicos da época, muitos acreditavam que o século XX seria algo como a realização do paraíso na Terra. Diziam que não haveria mais guerras, nem doenças, nem miséria, nem injustiças, enfim. Bem, não preciso explicar o que foi o século XX.

 

A questão do aumento da expectativa de vida, que sem dúvida é um fato, esbarra em alguns pontos. Primeiro, quando se diz que em 1891 a média de vida humana era de 33 anos, algo precisa ser explicado. A diferença daquele tempo para o de hoje é tão grande porque havia muita mortalidade infantil. As pessoas tinham muitos filhos e vários deles morriam nos primeiros dias ou primeiros meses de vida. Essas crianças que morriam entravam nas estimativas de vida geral, o que puxava a expectativa para baixo. Mas se considerarmos aquelas crianças que passavam dessa idade, dos primeiros meses, a média de vida aumenta bastante. Então, 33 anos era a média de vida porque nasciam muitas crianças e muitas morriam. Não era a média esperada de quem atingia a idade adulta. Se analisarmos sobre esse ângulo, claro que a média de vida aumentou, mas não foi tanto assim quanto parece.

 

Um outro ponto é que o autor do texto não menciona que há inúmeros locais do planeta onde vivem bilhões de pessoas em que a expectativa de vida continua baixíssima (em algumas regiões ela até diminuiu, como é caso de alguns países da África subsaariana), onde a miséria impera, onde doenças como a aids continua dizimando a população, onde os progressos da ciência não chegam, e pouco estão preocupados em fazer eles chegarem.

 

Mas o que achei mais absurdo no texto foi a total desconsideração por parte do autor quanto à pergunta: viveremos mais, mas onde? Parece-me que os entusiastas da ciência desconsideram que o ser humano é um animal que necessita de um planeta para sobreviver, que a nossa existência demanda o consumo dos recursos naturais, e que tais recursos não são infinitos, muito pelo contrário, já dão sinais claros de seu esgotamento, e que necessitamos da saúde e equilíbrio dos ecossistemas para nossa qualidade de vida. Qual é o custo, qual o preço, de nossas existências? De mais de 7 bilhões de habitantes? Estimativas indicam que a população atual da Terra supera em mais de 1 terço a capacidade do planeta em sustentá-la, sem falar que cada um de nós consome muito mais para viver do que o planeta pode oferecer a cada habitante.

 

Obtivemos um progresso na expectativa de vida, porém, no meu entender, este progresso encontra-se hoje ameaçado por um motivo bastante simples: nossa casa pode desabar sobre nossas cabeças. Enquanto o homem vive mais, em um nível de consumo absurdo e predatório, sem apresentar sinais reais de redução, o planeta torna-se cada vez mais doente, e sua vida é progressivamente aniquilada. Acreditamos realmente que conseguiremos viver mais em planeta sem vida?

 

Um abraço, Ruy.