quarta-feira, 30 de outubro de 2013

TRAVESSURAS DE INFÂNCIA


 

Nasci na Linha Araçá. Como naquela época gravidez ainda não era doença, vim ao mundo como todos os mamíferos vêm, apenas uma parteira ajudou a mãe. Quando eu tinha uns  5 anos viemos para Santa Cruz, onde meu pai se estabeleceu com casa comercial perto da Sudan. Dois anos depois , tendo meu pai progredido, nos mudamos para a Rua Tomás Flores, esquina com João Werlang, onde praticamente terminava a cidade.

Pois bem, ali era a estrada para a Linha João Alves. Aos domingos os colonos vinham com suas carroças apinhadas de gente para  missa na Matriz ( hoje Catedral). Estacionavam , desciam  de chinelos, com os sapatos na mão. Entravam pelos fundos de nossa casa e ocupavam o banheiro para lavar os pés e lá deixavam sombrinhas e chinelos. E iam a pé para a missa.

Minha irmã Lia e eu nos comprazíamos em esconder chinelos e bolsas e subíamos nas carroças. Quando os colonos voltavam era aquele alvoroço, mas levavam com bom humor nossas peraltices.

Na época era a coisa mais natural do mundo sair de funda ou bodoque a matar passarinhos. Como as pombas rolas passavam  comendo grãos que caiam dos caminhões, eram uma barbada os meus pré-delitos ambientais .O que me alivia a consciência é que minha mãe fazia sopa das vítimas aladas.

Mais tarde já me aventurava, escondido de meus pais, a tomar banho no Caveira ou no Rio Pardinho. Não raro eu ia de bicicleta, pasmem os leitores, até Rio Pardo, e olhem que a estrada não era asfaltada.

Num verão meus pais cismaram de mandar minha irmã e eu para passar duas semanas com os avós em Boa Vista. Nos primeiros dias até que foi bom, mas logo senti falta dos meus amigos. Esperei o caminhãozinho do leite passar, e pulei para a caixa, no meio dos tarros, após prometer para a mana que a mandaria buscar em seguida. Quando o caminhão chegou na altura do Grasel saltei fora pois dali eu sabia ir a pé ( literalmente, pois fui descalço).  Imaginem o estupor de minha mãe ao me ver chegar assim no mais. Como meu pai ameaçou me dar uma tunda, só me restou usar minha mãe como escudo e depois fugir para a casa da tia Olga Beck, que era nossa vizinha. Após algumas tratativas diplomáticas, da tia  com meu pai, ficou combinado que eu apenas receberia duas chineladas em cada palma da mão. Meu pai não bateu com muita força, já penalizado, mas eu gritei mais do que carneação de porco para fazer render o castigo.

O incrível é que nenhuma das tundas que recebi me fez virar bandido ou um “ serial killer”. Nem fiquei traumatizado pelo fato de meu pai nunca me “ frouxar” os pilas. Hoje não dá nem para se olhar feio para um filho....E não dar presentes nas “ datas” vai acabar dando prisão em regime inicial fechado para os pais. Quem viver, verá.
( publicado em Gazeta do Sul)