domingo, 13 de janeiro de 2013

AS GRINGUINHAS - COMENTÁRIO DO ESCRITOR FROILAM DE OLIVEIRA

http://froilamoliveira.blogspot.com.br/

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Ruy

gostei muitíssimo de tua última postagem: Por onde andarão aquelas duas gringuinhas do interior de Caxias?

Uma crônica perfeita. Suave  (como o perfume das flores do campo), gostosa (como a uva ao pé), filosófica (apresentando o mesmo drama do grande poeta John Keats: "se eu tivesse tempo").

Também já tive ideia de escrever sobre encontros fortuitos (ou que não aconteceram). Depois dos cinquenta,

nossas recordações viram poesia, e sentimos uma necessidade de expressá-las.

Um dos meus exemplos, cujo final se identifica com a tua crônica:

 

     Toda claridade

                 A viagem atravessou a noite (dentro de um ônibus com cortinas escuras e crianças que brincavam no corredor). Venho de Curitiba, para tirar umas férias fora de tempo. Manhã de outubro. As ruas excessivamente claras em Santa Maria. A Acampamento se encontra imersa em reflexos. O Calçadão é uma réplica da Rua das Flores. Canteiros ao centro, luminárias de acrílico, pessoas bem vestidas. Na Barão do Rio Branco, passando a Matriz, dobro à esquerda. Quadra seguinte. Do lado de uma porta alta, o número que procuro. Edifício antigo. A jovem que vem atender à campainha é de uma beleza incomum. Pergunto-lhe pela Mara. Sorri timidamente e me convida para entrar no pensionato. A mobília da sala é simples: mesa, sofá, televisão. A porta semiaberta deixa passar um jato oblíquo de sol, eliminando o efeito silhueta no interior. Mara desce a escada, felicíssima em me ver. Quanto tempo! Quero saber dos nossos. Alguma novidade? Há dez anos conhecemos um ao outro. Amizade pura como as flores do campo. Numa sala contígua, a estudante que me recebeu folheia uma apostila. Sua atenção volta-se para o nosso lado. Mara nos apresenta. Este é meu primo. Esta é Cleo. Olhos nos olhos. Ela é encantadora. Toda claridade. As duas leem meus últimos poemas. O relógio dispara. Meio-dia se aproxima. A realidade é inoportuna, por interromper a doçura, o sonho. Contra a vontade, despeço-me das duas. A imensa porta se fecha outra vez. Mas hei de voltar no final de minhas férias. Por esta luz.