sábado, 6 de outubro de 2012

RELEMBRANÇAS DOS MEUS TEMPOS DE GURI EM S. CRUZ



 
Recebo do meu amigo de infância Guido Koehler um exemplar do livro comemorativo aos 50 anos da AABB de Santa Cruz.

Inicio por dizer que na Santa Cruz de “ illo tempore” dois empregos estavam entre os mais prestigiados: “ bei den amarikaner von Souza Cruz arbeiten” ( trabalhar para os americanos da Souza Cruz) e ser funcionário do Banco do Brasil. Eu mesmo em 1964 me submeti ao concurso, fui aprovado com boa classificação, mas não quis assumir pois fora aprovado no vestibular em Direito na UFRGS o que, na época, me pareceu mais interessante opção.

Mas vários amigos meus seguiram a carreira com muito sucesso.  Olhando as fotos do livro me vêm à mente alguns episódios interessantes. Guido era e é um musicista autodidata e muito talentoso e eu era aluno de violino da sra. Amália Eidt. Contava a meu favor ter sangue da família Gessinger, de bons músicos, desde o meu bisavô, passando pelo avô e meu pai, além das tias, todas excelentes nos seus instrumentos. Sem falar no Humberto Gessinger ( Engenheiros do Hawaii), filho do prof. Humberto, meu tio.

Pois na época do Dia de Santos Reis, Guido , eu e mais alguns saíamos a tocar  pelas casas e recolhíamos alguns trocos em dinheiro. Nossa! Como rendiam aquelas serenatas, principalmente quando tocávamos nas casas dos “ obende zehntausende” ( dos mais afortunados).

Certa noite, após termos passado a noite tocando, já rescendendo a “ vermouth”, fomos na casa da então namorada do Guido, a Gísela. À janela onde ela dormia com a irmã, começamos a tocar desafinadamente, dada a influência etílica. Ouvimos uma das gurias falando para a outra:

- tu tá ouvindo esse barulho aí fora?

- to, mas vamos dormir que isso só pode ser uns bêbados porque to sentindo o cheiro da cachaça aqui de dentro...

Mas eu saí muito cedo de Santa Cruz, aos 17 anos, e  desde então só voltei para visitar meus familiares esporadicamente. Fiz minha vida toda fora e acho que nunca mais morarei em Santa Cruz.

Mas não passa um só dia em que não agradeça ao Senhor pela graça de ter nascido e educado em Santa Cruz. Me perdoem os mais jovens: mas era um “ provalescimento” a gente se submeter a um teste ou concurso ou entrevista, tamanha era a sólida base cultural que se detinha  e que nos diferenciava dos demais. Era só  dizer que se era de Santa Cruz que tudo se abria. Além disso, a severa educação a que nossos pais nos submetiam tornavam-nos a todos competidores excelentes no mercado de trabalho.

Uma coisa a mais para encerrar. Quando ingressei na Faculdade de Direito da UFRGS fui muito bem acolhido por  ter bons conhecimentos da língua alemã já que – coisa com que jamais imaginara – lá era um ninho de cultuação da escola alemã da ciência jurídica.

Agora voltando à AABB. Quantas cidades têm uma sede como a de Santa Cruz? E o que é isso senão a própria cara de nossa terra natal e da tenacidade da gente que aí nasceu?