domingo, 29 de julho de 2012

RELATOS DO COTIDIANO - POR ÉLVIO LOUREIRO

Meu amigo e conterrâneo de Santa Cruz volta a colaborar com o blog:

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Caro , Dr. Ruy, o pessoal que nos lê , devem pensar que somos muito velhos ,mas  nem tanto assim ,  somos bem recentes do tempo do Alka-Seltzer  para azia e má digestão ; do Biotônico Foutoura , uma espécie de fortificante para os “nelvos” ;  o Fontol, que caia bem, para dores de cabeça e ressacas depois daqueles “sambas”com conhaque  , aliás aposto que muitos não conheceram o “abacate” nem a “gasosa” da “Celina” , agora imagina o conhaque .

Mas, deixando um pouco o passado de lado , hoje é sábado , final de semana, e é no cotidiano que nos deparamos com muitas situações  cômicas  da vida real que valem a pena registrar :

Outro dia eu estava no barbeiro esperando a minha vez para cortar o cabelo, aliás onde eu pago somente metade do valor, e acho desnecessário dizer do motivo , observando o profissional  dando os retoques finais no cliente que me antecedia , quando terminou passou aquele tradicional  espanador ” para retirar o excesso de cabelos picados, pegou o espelho posicionando de forma a que o tal senhor pudesse observar os detalhes dos acabamentos frontais , e disse : Agora tu ta bonito !!! e o cara levantou lentamente posicionando-se em frente a um espelho maior , e falou : Isto foi mais ou menos a última coisa que a minha mulher falou ontem as cinco da manhã quando eu cheguei em casa “ bonito enh “ ?? e depois atirou uma sacola de roupas e bateu a porta na minha cara .

Eu conheci um rapaz , chamado Nicolau , que me contou um fato verídico da época que ele serviu o exército. Contou-me ele, que em certa ocasião num inverno rigoroso , frio e chuvoso, estava programado uma semana de exercícios , aquelas manobras militares de campo, numa fazenda próxima , e ele muito malandro, pensou em arranjar um jeito de escapar da empreitada , um colega seu do “mesmo naipe” lhe sugeriu uma idéia , assim procurou a enfermaria do batalhão , e falou para o enfermeiro que necessitava consultar com o médico, por que estava se sentindo muito mal , o auxiliar mesmo desconfiado com a aparência do Nicolau , tinha como obrigação fazer uma boa triagem antes de repassar ao médico ,  resolveu deixá-lo ser atendido direto. O médico acostumado na “lida” diz: entra soldado !! Qual é o teu problema ?? , O Nicolau diz : olha doutor , tentando impressioná-lo ao máximo , se eu soubesse nem teria lhe procurado , mais eu estou muito preocupado, tô mal, e o médico capitão , diz : então desembucha !! que é que tu sentes ?? qual é o sintoma?? que te incomoda rapaz ?? , e o Nicolau diz : olha doutor , eu to sentindo uma dor de cabeça , e toda vez que eu abaixo a cabeça eu também sinto um cheiro ruim e uma tonturinha . O médico olha no fundo dos “zóios” do Nicolau , e pede então para ele  curvar-se com a cabeça em direção aos joelhos , e pergunta : sentiu aquele mau cheiro e aquela  tontura que tu me falou ?? O Nicolau pensou enrolei o doutor ele vai me baixar na enfermaria , deve ter chegado a conclusão que é sinusite e que não posso ir para o campo , e disse:  isso mesmo doutor , eu senti um cheiro ruim e uma tonturinha leve. O doutor diz ao Nicolau : eu vou ter que te receitar um tratamento, mas é necessário tu seguir direitinho o que eu te recomendar ta bom meu filho ?? O Nicolau diz , pode deixar , vou fazer tudo direitinho como o sr. mandar . Daí o médico diz : Tu vai para o alojamento lavar este “s “ vai melhorar logo ,deve ser isto que tu sentes , este cheiro ruim e tontura vem ai de baixo, lava isso com sabão, e esfrega com escovão de aço . E assim  o Nicolau passou a semana na chuva , no barro , sem moleza , e nada de enfermaria .

Em certa ocasião , também numa noite de sexta-feira , muito fria de inverno, peguei um ônibus na rodoviária da capital, em direção a nossa cidade. Acho que deveria ser o último horário do expresso Gaúcho , e estava lotado por que muitos estudantes retornavam para casa no final de semana. Sobrou um banco no corredor lá no fundo , ao meu lado junto a janela , sentou-se um alemão tamanho GG , que eu acho que tinha tomado umas quantas Polar , e fumava aqueles cigarros “marca diabo” sem filtro que produziam aquela fumaceira danada . Imaginem naquele tempo era permitido fumar a bordo dos ônibus , e com os vidros fechados , o cara fumava um atrás do outro , e eu , mais todo resto dos passageiros fumávamos juntos de forma passiva (termo que agora esta na moda ). Mas, como disse aquele “baita” alemão tinha tomado umas quantas e mais um pouco, falava com um colega seu que não podia ver o rosto, sei que se apelidava de “Chico” , por que assim o chamava, e que sentava-se nos primeiros bancos do coletivo . Naquela época o tempo de viajem entre POA e SCS , era um pouco maior do que hoje, e nós todos ali naquela “câmara de gás” , imaginem a cena . O tal do “big bag” gritava lá do fundo pro tal  de “Chico” o tempo todo . Ô Chico !!!, eu comprei uns “croquete a baiana” na rodoviária para levar para minha mulher , eu não sei se ela vai gostar , tão meio apimentado , só sei que vai arder os ” zóios “ do “c ”dela ,  e o “Chico” nem se mexia no banco , calado, aprecia que queria se esconder e não dava , e o resto do pessoal , algumas senhoras , ficaram constrangidas com aquele palavreado chulo. E seguia a viajem , mais um cigarrinho , um acesso de tosse , ai ele resolve abrir a janela do ônibus,  (naquela época as janelas eram corrediças e podiam ser abertas) , e entra aquele ar gelado , e ele diz : Ô Chico , tá um frio do “c “ aqui fora , de arrepiar os cabelos do “c “, mas que barbaridade né !! mas que “p”frio !!, disse olhando para mim , que estava quietinho ali no lado só observando com olhar periférico . Mais um acesso de tosse , alguns outros ruídos próprios do esforço provocados , se seguiam sempre em sequencia, mas que eram acompanhados de um odor de “chucrute com Polar “ insuportável . E segue o “carreto” um pouco mais adiante, ele grita lá do fundo : Ô Chico !! , fala ai pro motorista que eu preciso dar uma “m” , tô apertado ,e o Chico , calado , provavelmente esperando ele se acalmar , e nada ,,, Ô Chico !! tu não ouviu ,eu to me “c “ , pede para este “ fdp ”parar este ônibus , ou eu vou me “c “ todo aqui mesmo !! O passageiros já estavam desesperados com o que poderia acontecer , imaginem eu ali no lado , o que poderia sobrar para mim,  mais um pouco o cobrador , aquele era um ônibus “pinga pinga “ , fala no corredor “tamo” chegando na Palhoça e todo mundo suspira aliviado . O ônibus vai estacionando e o alemão “GG” , quando passou já estava mais para “EGG”, passa pelo corredor em direção a porta do ônibus meio atrapalhado , segurando as calças. Na parada obrigatória eu procurei o Chico , pelo amor de Deus , vamos trocar de lugar , não da para agüentar , se não trocar de banco comigo  eu juro que sigo  daqui a pé pra casa. Até hoje eu agradeço a gentileza do Chico , mas tenho um trauma de viajar de ônibus , ta louco meu .