quinta-feira, 26 de julho de 2012

RECORDAR É VIVER - MAIS UMA BELA CRÕNICA DE ELVIO LOUREIRO


 Que belo parceiro encontrei. O Élvio me ajuda a recordar os tempos de um colégio onde estudei. E graças à sólida educação que recebí, a vida me foi grata.
---------------------------------------------
Dou a palavra a Élvio

Da série de Lembranças : O Colégio São Luis em Santa Cruz do Sul .



Ontem, caminhando pelo centro de nossa cidade, curtindo o sol numa tarde muito fria , típica do mês de julho , feriado dedicado a homenagear  a colonização alemã  no município  , sentei-me num banco da praça , local onde nos reuníamos nos tempos de ginásio, hoje primeiro grau de ensino, tendo ampla visão da fachada do Colégio Marista São Luis, fundado em 1903 , hoje com mais de 100 anos de existência.

Admirando a arquitetura comecei a imaginar, quantas gerações forjaram naquele educandário as bases das suas formações profissionais , quantas amizades nasceram  e se mantém ainda dando continuidade aquele convívio de colegas de classe, onde muitos migraram para outros municípios , outros países , e alguns não encontram-se mais entre nós.

Colégio de orientação católica , mantinham o hábito da oração no inicio e final de cada aula, havia também capela interna para celebrações , mas respeitavam outros princípios individuais; esta tolerância de aceitar outras formas de convicções e pensamentos representaram para mim um exemplo de convivência pacífica com as diferenças, que hoje infelizmente ainda representam motivos de guerras entre muitos povos e nações.

Os irmãos Maristas , ainda usavam aquelas “batinas preta “ , alguns muitos disciplinadores outros nem tanto, algumas figuras folclóricas , como o irmão Balduíno, um marista que havia atuado na Europa por muitos anos, e trouxe consigo uma visão do velho mundo diferente daquela em que vivíamos na década de 60 , aqui no Brasil. Ele lecionava história e inglês , mas as aulas após uns 30 minutos se transformavam em sua essência específica , ficava meio possesso e pronunciava grandes discursos contra o regime da época; em dado momento ainda me lembro, que também estava-me tornando revoltado , ensaiava algumas palavras do pobre vocabulário, próprio da geração conhecida como “amordaçada”, mas que com o tempo acabamos amadurecendo e entendendo melhor, que extremismos de quaisquer natureza são sempre perversos e indesejáveis , há muitíssima similaridade entre o que chamamos de extrema direita e a extrema esquerda, mas que não vem ao caso filosofar neste momento.

O futebol do “abacateiro” ; quadra de piso arenoso , uma espécie de pó de brita muito fina, escorregadiço , tamanho futebol sete , que para jogar de pé descalço somente para quem desenvolvia aquele “casco duro” na sola do pé. A quadra do abacateiro assim se chamava porque existia num canto um frondoso pé de abacate , que costumava carregar da pesada fruta ,era famosa, grandes disputas , e torneios , eram ali realizados ; árvore que atingiu um grande tamanho , formosa , algumas vezes chutávamos a bola para derrubá-las. Hoje não existe mais aquele espaço, que usávamos para as aulas de educação física , e outras brincadeiras , e não existe nenhum ex-aluno que não se lembre do famoso “abacateiro”.

Existia também um jogo da época que chamava-se espirobol , ou qualquer coisa assim, tratava-se de um mastro com uma corda fixada no seu topo , onde aprisionava-se uma bola de couro através de uma lingüeta própria, sendo que a base era dividida em quatro partes em uma circunferência cujo jogadores se dividiam na disputa , através do soqueio desta bola, com objetivo de fazê-la enroscar no mastro.

Não poderia deixar de lembrar-me do seu Rodolfo , um senhor de pele morena, de uma humildade invejável , bastante grisalho, cujo olhos havia um semblante sereno e um tom cristalino raro levemente azulado, provavelmente castigado pela idade avançada, não tinha a formação Marista (irmão), não era natural de Santa Cruz , mas tratava-se de uma pessoa muito especial para nós , era ele quem regava as plantinhas das floreiras do corredor , nos ensinou a preservar e respeitá-las, que limpava o piso por onde passávamos , varria o pátio; caminhava lento, parece que estou vendo-lhe , nos chamava atenção quando das algazarras, tenho para com ele uma enorme gratidão, guardo um enorme carinho , pelos muitos conselhos que recebi .

Muitas lembranças , uma delas era a famosa banda marcial , muito comum da época, e  assim como no futebol, havia também uma grande rivalidade na cidade entre os colégios Mauá e São Luis , um evangélico e outro católico, cada qual queria se apresentar melhor , sem quaisquer sentimentos de maior conseqüências , a não ser a disputa sadia , disciplinada , de orgulho em representar a sua instituição . Na banda ensaiávamos duas a três vezes por semana , apreendíamos músicas, uma delas, o Hino de Santa Cruz , cuja letra inspiradora da nossa saudosa professora Elisa Gil Borosky , mas que tomou "vida" na música do então violinista Lindolfo Rech. No dia de ontem sentado naquele banco da praça também me veio esta recordação pela data comemorativa, reservada ao município de Santa Cruz do Sul , cidade esta de pujante colonização alemã na condição de colônia por volta de 1847 , emancipando-se em 1877 , e que este como outros educandários, muito representaram , representam e representarão ainda , para muitas gerações .



Abraços 
Élvio.